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sexta-feira, 24 de maio de 2013

ZONAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCEITOS ESPONTÂNEOS E CIENTÍFICOS - VYGOTSKY


REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de Janeiro: vozes. 1997.

ZONAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCEITOS ESPONTÂNEOS E CIENTÍFICOS

Segundo Vygotsky, a dimensão social é muito importante para a formação do sujeito porque fornece elementos, mecanismos e formas de comportamento que medeiam a relação do individuo com o mundo. O desenvolvimento pleno do individuo depende da aprendizagem resultante de suas interações com o meio em que vive. Consequentemente, o aprendizado representa um fator necessário e universal ao desenvolvimento das características psicológicas humanas e culturalmente organizadas.
Fundamentado nesses pressupostos, Vygotsky enfatiza as relações entre desenvolvimento e aprendizado, analisando esta questão sob dois enfoques: um que diz respeito à compreensão da relação geral entre o aprendizado e o desenvolvimento; o outro se refere às particularidades desta relação no processo escolar.
Em seus trabalhos Vygotsky distingue dois níveis de desenvolvimento do indivíduo: o nível de desenvolvimento real ou efetivo e o nível de desenvolvimento potencial. O primeiro se refere às conquistas concretizadas pelo sujeito, ou seja, às funções ou capacidades que ele já adquiriu e domina. Nas escolas, no cotidiano e nos estudos sobre o desenvolvimento do aluno, é comum avaliar o aluno apenas neste nível.
O nível de desenvolvimento potencial diz respeito às atividades que o aluno não consegue realizar sem o auxilio de alguém. Vygotsky considera este nível muito mais significativo para verificação do desenvolvimento mental do aluno.
O teórico chama o intervalo entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial de “Zona de desenvolvimento potencial ou proximal”, a qual serve para indicar as funções que estão em fase de maturação no educando. Assim, o ensino mais adequado ao desenvolvimento implica na consideração desses dois níveis de aprendizagem.
O aprendizado gera a zona de desenvolvimento proximal na medida em que, ao se relacionar com outras pessoas, o sujeito desencadeia vários processos de desenvolvimento. Esses processos são internalizados e passa a integrar as aquisições do seu desenvolvimento individual. Baseando-se nesse fato, Vygotsky faz a seguinte afirmação: “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã”.
O conceito de zona de desenvolvimento proximal é importante no âmbito educacional porque possibilita a compreensão da dinâmica interna do desenvolvimento humano. Considerando esse conceito, o educador pode criar estratégias que auxiliem o processo de aprendizagem do educando. Além disso, a zona de desenvolvimento proximal permite a constatação do que não faz parte do conhecimento do sujeito.
Nessa perspectiva, cada matéria escolar é essencial para o desenvolvimento do aluno e mantém com este uma relação que varia com a passagem do aluno de um estágio de desenvolvimento para outro.
A relação entre pensamento e linguagem, o papel mediador da cultura na formação da base psicológica do individuo e o processo de aprendizagem elaborado socialmente constituem as teorias vygotskyanas e são determinadas pelo processo de formação de conceitos e pela função desempenhada pela escola.
Para Vygotsky, os conceitos representam um sistema de relação e generalização inserido nas palavras e definido por um processo histórico-cultural, os pré-requisitos necessários à definição de um conceito são estabelecidos por aspectos dos elementos do mundo real, concebidos como importantes pelos diversos grupos sociais.
Para esse teórico, o desenvolvimento e a aprendizagem do individuo estão inter-relacionados desde o seu nascimento. Assim desde cedo, através de vivências e ações sobre o material cultural (conceitos, ideias, objetos concretos etc), os indivíduos realizam uma diversidade de atividades. Consequentemente, ao ingressar na escola, já possuem alguns conhecimentos do mundo que os cercam. Contudo, na escola um outro tipo de conhecimento será construído.
Buscando explicar o papel da escola no processo de desenvolvimento do individuo, o teórico relaciona dois tipos de conhecimentos: os conceitos cotidianos ou espontâneos e os conceitos científicos. Os cotidianos se referem aos conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana, ou seja, noções geradas a partir da observação, manipulação e vivência direta do sujeito. Os científicos correspondem aos conhecimentos elaborados na sala de aula, adquiridos através do ensino sistemático, isto é, aqueles eventos não diretamente disponíveis à observação ou ação imediata do sujeito.
Os dois tipos de conhecimento estão inseridos no processo de construção de conceitos, portanto, possuem uma relação estreita e um pode influenciar o outro, pois possuem uma relação de reciprocidade.
O processo de formação de conceitos é imprescindível para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Representa uma construção longa e completa porque inclui operações intelectuais orientadas pelo uso das palavras (atenção deliberada, abstração, memória lógica etc). A aprendizagem conceitual exige, além das informações exteriores, uma intensa atividade mental por parte do sujeito. Sendo assim, um conceito não pode ser aprendido mecanicamente, nem pode ser transmitido ao aluno.
As funções intelectuais constituem a base psicológica para a formação dos conceitos e são configuradas e desenvolvidas durante a puberdade, através de desafios, exigências e estímulos ao intelecto do adolescente.
Nessa perspectiva, o ensino escolar é importante para a formação geral e científica do aluno porque oferece um conhecimento sistemático sobre aspectos que ultrapassam a sua percepção natural, possibilitando o seu contato com o conhecimento cientifico construído historicamente; além de conscientizá-lo de seus próprios processos mentais (metacognição).
Durante o processo de ensino-aprendizagem, o aluno apresenta conhecimentos prévios que são, na verdade, os conhecimentos espontâneos ou conhecimento do senso comum. Para contextualizar a aprendizagem e facilitar a assimilação dos conhecimentos científicos ou sistematizados, o professor deve valorizar o conhecimento prévio de seus alunos relacionando ao conteúdo abordado durante as aulas.





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