PIAGET, Jean. O
Juízo Moral na Criança. São Paulo: Summus, 1994.
Revendo nossos limites
Segundo
o dicionário Aurélio, limite significa: linha de demarcação; divisa, fronteira;
extremo, fim; ponto que não se deve ultrapassar. Quando pensamos na questão dos
limites, nos referimos às regras e normas, permissões ou proibições,
apresentadas às crianças de maneira externa, como imposições.
Mas,
afinal, o que são limites? Será que são aspectos que devem ser cobrados apenas
às crianças, que por sinal ainda se encontram no processo de formação de sua
personalidade? E os adultos? Será que todos têm limites? Penso que devemos
refletir sobre os nossos valores enquanto moldadores de nossa conduta e até
mesmo enquanto educadores seja pai, mãe, professor ou cuidadores.
Tocar
fogo em um mendigo, roubar, jogar lixo nas ruas, riscar cadeiras, quebrar o que
não é nosso, dar prejuízos ao outro, pegar o que não é nosso, colar em provas,
espancar uma mulher por ela ser uma doméstica ou prostituta, se aproveitar de
um inocente e muitos outros fatos semelhantes não seriam indícios de falta de
limites? Realmente, precisamos repensar o conceito de limites.
O verdadeiro
significado da palavra limites vem incomodando e intrigando muitos pensadores e
críticos em educação sobre o seu verdadeiro conceito e suas transformações no
decorrer dos tempos. Estes realizam pesquisas e estudos na construção social e moral
dos indivíduos.
Assim
sendo, diante de tanta falta de limites, somente nos resta uma opção: a construção
da autonomia das nossas crianças que serão os adultos das novas gerações. Contudo,
importa lembrar que autonomia não é individualismo ou liberdade para fazer o
que der vontade. Autonomia significa coordenar os diferentes fatores relevantes
antes de escolher a forma de agir que considere todos os envolvidos. O homem é
um ser racional e pode decidir o melhor procedimento, o que é certo ou errado,
considerando os seus direitos e o ponto de vista do outro. De acordo com Piaget
(1994), a pessoa autônoma considera, por decisão própria, o outro além de si. A
autonomia implica em seguir um código de ética interno, regras morais próprias,
as quais são provenientes dos sentimentos internos da necessidade de considerar
a forma como tratar os outros.