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sexta-feira, 17 de maio de 2013

AS NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO



As novas tecnologias inauguram uma nova forma de conceber o fenômeno técnico que, em conseqüência, exige sua efetivação no estabelecimento da metamorfose da prática pedagógica. Deriva-se dessa consideração básica a necessidade de se rever o papel da educação escolar, problematizar as metodologias de ensino-aprendizagem e, particularmente, o estatuto do conhecimento científico.
A prática pedagógica deve mudar, uma vez que muda o estatuto do próprio conhecimento.
A Escola está calcada num único padrão de conhecimento: o saber sistematizado ou elaborado ou ainda acadêmico. Dessa forma, as atividades pedagógicas privilegiam, quase que exclusivamente, a dimensão intelectual em detrimento da dimensão afetiva, intuitiva, imaginaria, lúdica. O aspecto intelectual é concebido como algo absoluto e não integrado com outros aspectos do ser humano. Em outras palavras, privilegiam a mente em detrimento do coração; o espírito em detrimento do corpo; um lado do cérebro em detrimento do outro.
Percebe-se que a educação é tomada como uma mediação entre o indivíduo e a sociedade; é vista, também, como um fenômeno dinâmico e heterogêneo. Contudo, a Educação Escolar é especificamente uma atividade voltada para a instrução e o ensino, de modo consciente, deliberado, planificado; é uma atividade racionalizada, sistemática, formal. Comprometida com a cultura letrada e nela fundada, a Escola, por meio de suas metodologias de ensino-aprendizagem, procura separar o fenômeno da aprendizagem das reais condições de vida onde ela se processa. Não há lugar para a aprendizagem intuitiva, lúdica, afetiva, sensoriomotora (dimensões presentes nas formas de interatividade das atuais tecnologias, como a internet). Essa distância repousa numa redução do ser humano a uma “dimensão racional”.
Entretanto, como já é possível perceber, o mundo não é tão apreensível assim, nem tão organizado segundo critérios lógicos; de modo que a competência que permite a inserção ativa e criativa não tem relação apenas com o saber elaborado. Pelo contrário, o ser humano precisa, com urgência, ser tomado de modo integral. Nessa direção, a metamorfose da prática pedagógica poderia começar pela revisão da hierarquia entre o formal e o informal. Certamente, o abandono da dicotomia formal/informal no âmbito da formação humana representa um caminho possível tanto para a superação do estado de resistência frente às novas tecnologias, quanto para que se conquiste um avanço na questão do uso não segmentado das mesmas.
Nas tecnologias atuais, como a internet, o desenvolvimento da interface tem permitido uma progressiva experiência de interatividade na comunicação e na construção do conhecimento, de uma composição coletiva do pensamento humano. Essa interatividade permite um rompimento com a racionalidade da cultura letrada e a ascensão de um pensar intuitivo e lúdico. Enquanto circunstância de aprendizagem, as tecnologias inteligentes exercem enorme poder na participação ativa, indispensável à aquisição do conhecimento.
Metodologicamente falando, a Escola precisa mesclar circunstâncias de aprendizagem formais e informais, visando uma abordagem teórico-prática integral. Agindo assim, no mínimo, estaria flexibilizando e variando a prática pedagógica, permitindo a entrada de elementos que terminariam por questioná-la, modificá-la; estaria oportunizando a aproximação com outros parâmetros e novos elementos que poderiam complexificar ainda mais o fenômeno educativo.
O mundo letrado exigiu da Escola a adoção do princípio da racionalização, de uma lógica formal. Hoje, a digitalização da vida requer uma lógica diferente, que servirá como base para uma metodologia que inclui também o informal. A metáfora do hipertexto é eficiente para o modelo de educação a ser buscado. É, portanto, essa lógica hipertextual que precisa presidir as iniciativas metodológicas dentro da Escola.



LIMA JÚNIOR, Arnaud Soares de. As Novas Tecnologias e a Educação Escolar - um olhar sobre Projeto Internet nas escolas - Salvador/Bahia. Dissertação de Mestrado, Salvador, UFBA, 1997 

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