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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ANALFABETISMO: UM CÂNCER SOCIAL



Incrível como o analfabetismo é um assunto que nunca se esgota nas mídias brasileiras. Mais interessante ainda são as teorias empregadas para justificar a existência desse câncer social: má alimentação, pobreza, dificuldades de aprendizagem e muitas outras causas em que o foco é sempre o aluno. Entretanto, não há interesse algum, por parte de quem está no poder, em encontrar as verdadeiras causas para essa patologia social.

Há mais de 25 anos na área educacional, me pego inúmeras vezes pensando no sofrimento ao qual os alunos são submetidos. Descompromisso pedagógico, desrespeito ao tempo pedagógico, greves constantes, falta de livros e recursos didático-pedagógicos, ensino desqualificado e muito aquém do que é ministrado pelas escolas particulares. Digo isso considerando apenas àquelas escolas que, mesmo sendo particulares, apresentam um ensino muito fraco, abaixo do recomendável.

No cotidiano das escolas, da rede pública ou particular, o que se pode presenciar é a falta constante de professores, desmotivação dos alunos, carência de professores para lecionar – mesmo tendo sido feito vários concursos para atender a demanda. Alunos que não podem “dar um pio” na aula porque são colocados para fora da sala. Coloca-se para fora do ambiente de aprendizagem, pelo que vejo enquanto profissional da área, por motivos banais, infundados. Que lição há nessa atitude do educador? Penso que é isso que os alunos querem, sair desse ambente que lhe é hostil. De um ambiente em que seu tutor fala uma linguagem diferente e distante da sua. Que emprega metodologias ultrapassadas e que não motivam em nada a participação discente. Profissionais desqualificados, mal remunerados e que fazem apenas o mínimo do mínimo do que deveria ser a sua competência profissional. Os conteúdos, que tristeza, tenho até medo de mencionar. Adiantados para a série e idade escolar nas escolas particulares e o oposto sendo aplicado nas escolas públicas. Quer ver um exemplo? Um aluno da escola pública que acompanhei recentemente ia fazer uma avaliação de matemática referente ao 8º ano e a revisão da prova contemplava exercícios de equação do primeiro grau, potenciação, inequação do 1º grau, os quais fazem parte do 6º ano do fundamental lI. Onde ficaram os produtos notáveis, as equações literais e algébricas, os polinômios e demais assuntos do 8º ano? Que preparo esse aluno terá para no futuro ingressar em uma faculdade?

Nas aulas de língua portuguesa, onde fica a literatura, o ato de ler por prazer? A literatura é utilizada como pretexto para ensinar gramática, para mostrar o que é substantivo, artigo, conjunção e demais classes gramaticais. Que prazer os alunos vão ter em ler um poema, um conto, um soneto, uma história, um romance e muitos outros textos literários, se a própria literatura é subutilizada pelos professores? Como os alunos podem aprender e se desenvolver sem ter um hábito de leitura? Para aprender a ler é preciso ler e para redigir é preciso exercitar a escrita, e estas atividades pouco são priorizadas nas escolas. Os alunos muito mal fazem exercícios de casa. Os trabalhos são copiados e colados da internet, pois os alunos não sabem ler e resumir, são programados apenas para serem copistas. Não quero aqui me deter em outros detalhes, no intuito de não cansar o leitor. Apenas faço o meu desabafo, em prol dos meus alunos e de muitos outros alunos que são alienados do seu direito de ser um aprendiz, de ter uma educação de qualidade, de se desenvolver enquanto pessoa e no futuro galgar uma oportunidade para ser um bom profissional.

Diante do exposto, considero o analfabetismo um câncer social, porque apesar de ser estudado e pesquisado por alguns poucos profissionais, ainda não foi encontrado o seu antídoto, a sua cura. Por ser um problema antigo e que se perpetua no tempo e no espaço, sem uma mobilização social e política para alcançar a raiz da sua existência. Precisamos mudar o foco das pesquisas, educadores e pais precisam se unir e buscar os fatores que dão origem ao problema e a mediação necessária para reduzí-lo e até mesmo erradicá-lo, já que a solução jamais será prioridade da política vigente.



Autor: Professora Martha