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sexta-feira, 12 de julho de 2013

AOS PAIS SEMPRE OCUPADOS


 O pai moderno, muitas vezes perplexo e angustiado, passa a vida inteira correndo como um louco em busca do futuro e esquece do agora. A cada novo bem custa dias, semanas, meses de luta. Mas ele está "realizando" o futuro de sua família. Não se contenta com um emprego só - é preciso ter dois ou três; vender parte
das férias; levar parte para casa.
Esse homem se esquece de que a verdadeira declaração de bens está em outra página do formulário do imposto de renda - naquelas modestas linhas, quase escondidas, onde se lê: relação de dependentes. São os filhos que colocou no mundo, a quem deve dedicar o melhor do seu tempo.
Novos demais, não estão interessados no aumento da renda. Eles só querem um pai para conviver, dialogar, brincar.
Mas o pai, porque se entregou de tal forma à construção do futuro, não os levou ou buscou no colégio; nunca foi a uma festa infantil; não teve tempo para assistir à coroação de sua filha como rainha da primavera.
Há filhos órfão de pais vivos. Há irmãos crescendo como verdadeiros estranhos. Só se encontram de passagem em casa. E para ver os pais é quase preciso marcar hora.
Depois de uma dramática experiência pessoal e familiar, a mensagem que tenho para dar é: não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado aos filhos.
Aos 18 anos de casados, passei 15 absorvido pela construção do futuro para três filhos e minha mulher.
Isso me custou longos afastamentos de casa: viagens, estágios, cursos,plantões no jornal, madrugadas no estúdio da televisão... Uma vida sempre agitada, tormentosa e apaixonante, na dedicação à profissão - que foi, na verdade, mais importante do que minha família.
Agora, estou aqui com o resultado de tanto esforço: construir o futuro,penosamente, e não sei o que fazer com ele, depois da perda de Otávio e Priscila.
De que vale tudo que juntei, se esses filhos não estão mais aqui para aproveitar? Se o resultado de 30 anos de trabalho fosse consumido agora por um incêndio e, desses bens todos, não restassem nada mais do que cinzas, isso não teria a menor importância; não ia provocar o menor abalo em nossa vida, porque a escala de valores mudou e o dinheiro passou a ter peso mínimo e relativo em tudo.
Se o dinheiro não foi capaz de comprar a vida de meu filho amado que se drogou e morreu; se não foi capaz de evitar a fuga de minha filhinha, que saiu de casa e prostituiu-se, e dela não tenho mais notícias, para que serve? Para que ser escravo dele?
Eu trocaria - explodindo de felicidade - todas as linhas da declaração de bens por duas únicas que tive de tirar da relação de dependentes: os nomes de Luiz Otávio e de Priscila. E como doeu retirar essas linhas na declaração de 1986, ano base 1985.


Depoimento de um jornalista


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