QUEM NÃO LÊ NÃO ESCREVE
Wander Soares
Bill
Gates afirmou: "Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão
livros"
É
alarmante o fato de que apenas 1% dos alunos brasileiros da 3ª série do 2º grau
(ou seja, os que se preparam para ingressar na universidade) tenha domínio
adequado do idioma português.
O
resultado, expresso em pesquisa do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), deve servir de alerta para os responsáveis pela gestão do ensino, os
professores e os pais de alunos. Não é sem razão que os estudantes brasileiros
reagiram de forma tão contundente ao "provão" instituído pelo
Ministério da Educação, que expõe o despreparo com que nossos alunos saem das
universidades.
O
problema apontado pela pesquisa, que inclui outras áreas do conhecimento, como
a matemática, poderia ser simplesmente atribuído, numa análise mais simplista e
superficial, à má qualidade do ensino público. O estudo, entretanto, também
abrange os alunos das escolas particulares, nas quais, em tese, se pratica
ensino de melhor nível. Fica claro que a questão é mais abrangente e grave,
merecendo a atenção de toda a sociedade e das autoridades neste final de
século. Seria ingenuidade, para não falar em omissão histórica, imaginar que
possamos conquistar o desenvolvimento sem preparar adequadamente nossos jovens
para um mundo em que a informação, em todas as áreas do conhecimento humano,
será um diferencial decisivo para delimitar o grau de independência e
competitividade de países, empresas, instituições e, sobretudo, indivíduos.
Não
bastam tecnologia de ponta, redução de custos, programas de qualidade e
produtividade. Para participar da globalização com vantagens competitivas, o
Brasil precisa de valores humanos, cujos talento, cultura, criatividade e
preparo são requisitos fundamentais ao desenvolvimento. Observa-se no país,
contudo, uma perigosa desvalorização da cultura básica, da erudição e do
conhecimento. A informação científica e humanística é "pelletizada"
em apostilas, na "indústria" do vestibular ou na realidade virtual da
multimídia eletrônica. A grande maioria dos cursos de 2º grau e "cursinhos"
prepara o aluno apenas para realizar a prova, mas não desenvolve nele o
raciocínio, o senso crítico e o conhecimento de base. Obras literárias
importantes são resumidas, de forma pobre e descaracterizada, em poucos parágrafos. As apostilas são confeccionadas sem estudos prévios, ao contrário do
que ocorre com os livros, que demandam anos de pesquisa por profissionais,
especialistas, intelectuais, escritores e cientistas, contendo ilustrações
detalhadas e informações completas.
Já
sem cultura básica, nossos jovens também não são estimulados à leitura de
jornais e revistas, que também se constituem em fonte imprescindível de
informação e formação. Os estudantes sabem manipular com habilidade os
microcomputadores, em casa e,de forma crescente, também nas escolas,
públicas e privadas. "Navegam" com fluidez na Internet, mas não são
capazes de interpretar um texto de Machado de Assis; são verdadeiros ases das
artes marciais dos jogos eletrônicos virtuais, mas não conseguem redigir um
texto com princípio, meio e fim, estilo, forma e linguagem; "conversam''
com colegas de outros continentes, via modem, mas atentam contra o idioma com
seu pobre vocabulário. Nossos jovens têm acesso a todos os canais da era da
informação, mas não têm informação. Por isso, no ano decisivo de disputa de uma
vaga na universidade, recorrem a cursos especializados em vestibulares, que
treinam, mas não ensinam.
As
escolas brasileiras não possuem bibliotecas. As raras existentes são
incompletas e, o que é pior, pouco frequentadas. Em casa, a leitura de livros,
igualmente, não é estimulada. Nada contra a informática, a multimídia e a
realidade virtual. É inadmissível, porém, a ausência de formação intelectual e
a alienação diante da realidade tangível. Para reverter esse quadro - uma
responsabilidade de autoridades, educadores, professores e pais -, não
basta oferecer aos alunos os imprescindíveis livros didáticos. É preciso
oferecer-lhes incentivo e meios de lerem os principais autores nacionais e
estrangeiros, da literatura de ficção e não-ficção, jornais, revistas e obras
científicas e humanísticas. Essa é a forma de construirmos uma sociedade
inteligente, culta e capaz de conduzir o Brasil a um destino melhor.
C
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