O didatismo na literatura
infantil não é um fenômeno recente. As histórias eram contadas às crianças com
o intuito de ensinar e educar com intenções doutrinárias, didáticas, religiosas
e ideológicas. Da moral das fábulas gregas clássicas de Fedro e Esopo às lições
dos contos de Charles Perrault no século XVII, o objetivo era que qualquer
prazer que uma criança conseguisse extrair da leitura fosse ligado a alguma
forma de aprendizado. A própria idéia de infância não podia se separar da idéia
de educação (Machado, 1999). Uma tendência que permanece viva e viril, apesar
dos estudos acadêmicos e discussões sobre a literatura infantil e sua
importância na formação do leitor, da pessoa e do próprio ser humano.
Por que estragar a
literatura usando-a como pretexto? Que funcionalidade há nessa metodologia de
Ensino? Sabemos que dentre as maiores queixas dos professores estão no fato de
seus alunos não gostarem de ler. Onde será que está a raiz desse problema? Será
que enquanto educadores e mediadores não temos culpa no cartório?
A leitura deve ser algo
prazeroso, que permita o leitor fazer uma viagem maravilhosa, sonhar, adquirir
conhecimentos de forma espontânea, se colocar enquanto personagens, inferir,
questionar, criar, criticar, sem imposições e prioridades didáticas.
A leitura instrumentaliza o
aluno a escrever, a criar, a aprender, a interpretar e muito mais, sem que seja
vista como uma obrigação. Precisamos rever o papel da leitura, em casa, na
Escola, e nas diversas instituições de ensino. Precisamos formar pessoas inteligentes,
reflexivas, autônomas que busquem espontaneamente conhecimentos, que sintam
prazer em abrir um livro, que busquem mais e mais conhecimentos.
Pensem no contar histórias
em nossa infância. Quantos não se sensibilizam ao ser conduzido a se lembrar da
pessoa que foi seu contador de histórias quando eram crianças? O pai, a mãe,
uma tia, uma prima. Não importa quem exerceu essa função, o que interessa é o
papel importante que representou em nossa vida, em nossa formação pessoal.
Existem terapias que se baseiam, sobretudo, no contar histórias ao paciente.
Por que será?
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