As
novas tecnologias inauguram uma nova forma de conceber o fenômeno técnico que,
em conseqüência, exige sua efetivação no estabelecimento da metamorfose da
prática pedagógica. Deriva-se dessa consideração básica a necessidade de se
rever o papel da educação escolar, problematizar as metodologias de
ensino-aprendizagem e, particularmente, o estatuto do conhecimento científico.
A
prática pedagógica deve mudar, uma vez que muda o estatuto do próprio
conhecimento.
A
Escola está calcada num único padrão de conhecimento: o saber sistematizado ou
elaborado ou ainda acadêmico. Dessa forma, as atividades pedagógicas
privilegiam, quase que exclusivamente, a dimensão intelectual em detrimento da
dimensão afetiva, intuitiva, imaginaria, lúdica. O aspecto intelectual é
concebido como algo absoluto e não integrado com outros aspectos do ser humano.
Em outras palavras, privilegiam a mente em detrimento do coração; o espírito em
detrimento do corpo; um lado do cérebro em detrimento do outro.
Percebe-se
que a educação é tomada como uma mediação entre o indivíduo e a sociedade; é
vista, também, como um fenômeno dinâmico e heterogêneo. Contudo, a Educação
Escolar é especificamente uma atividade voltada para a instrução e o ensino, de
modo consciente, deliberado, planificado; é uma atividade racionalizada,
sistemática, formal. Comprometida com a cultura letrada e nela fundada, a
Escola, por meio de suas metodologias de ensino-aprendizagem, procura separar o
fenômeno da aprendizagem das reais condições de vida onde ela se processa. Não
há lugar para a aprendizagem intuitiva, lúdica, afetiva, sensoriomotora
(dimensões presentes nas formas de interatividade das atuais tecnologias, como
a internet). Essa distância repousa numa redução do ser humano a uma “dimensão
racional”.
Entretanto,
como já é possível perceber, o mundo não é tão apreensível assim, nem tão
organizado segundo critérios lógicos; de modo que a competência que permite a
inserção ativa e criativa não tem relação apenas com o saber elaborado. Pelo
contrário, o ser humano precisa, com urgência, ser tomado de modo integral.
Nessa direção, a metamorfose da prática pedagógica poderia começar pela revisão
da hierarquia entre o formal e o informal. Certamente, o abandono da dicotomia
formal/informal no âmbito da formação humana representa um caminho possível
tanto para a superação do estado de resistência frente às novas tecnologias,
quanto para que se conquiste um avanço na questão do uso não segmentado das
mesmas.
Nas
tecnologias atuais, como a internet, o desenvolvimento da interface tem
permitido uma progressiva experiência de interatividade na comunicação e na
construção do conhecimento, de uma composição coletiva do pensamento humano.
Essa interatividade permite um rompimento com a racionalidade da cultura
letrada e a ascensão de um pensar intuitivo e lúdico. Enquanto circunstância de
aprendizagem, as tecnologias inteligentes exercem enorme poder na participação
ativa, indispensável à aquisição do conhecimento.
Metodologicamente
falando, a Escola precisa mesclar circunstâncias de aprendizagem formais e
informais, visando uma abordagem teórico-prática integral. Agindo assim, no
mínimo, estaria flexibilizando e variando a prática pedagógica, permitindo a
entrada de elementos que terminariam por questioná-la, modificá-la; estaria
oportunizando a aproximação com outros parâmetros e novos elementos que
poderiam complexificar ainda mais o fenômeno educativo.
O
mundo letrado exigiu da Escola a adoção do princípio da racionalização, de uma
lógica formal. Hoje, a digitalização da vida requer uma lógica diferente, que
servirá como base para uma metodologia que inclui também o informal. A metáfora
do hipertexto é eficiente para o modelo de educação a ser buscado. É, portanto,
essa lógica hipertextual que precisa presidir as
iniciativas metodológicas dentro da Escola.
LIMA JÚNIOR, Arnaud Soares de. As Novas Tecnologias e a Educação Escolar - um olhar sobre Projeto Internet nas escolas - Salvador/Bahia. Dissertação de Mestrado, Salvador, UFBA, 1997
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