REGO,
Teresa Cristina. Vygotsky: uma
perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de Janeiro: vozes. 1997.
ZONAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCEITOS
ESPONTÂNEOS E CIENTÍFICOS
Segundo
Vygotsky, a dimensão social é muito importante para a formação do sujeito
porque fornece elementos, mecanismos e formas de comportamento que medeiam a relação
do individuo com o mundo. O desenvolvimento pleno do individuo depende da
aprendizagem resultante de suas interações com o meio em que vive.
Consequentemente, o aprendizado representa um fator necessário e universal ao
desenvolvimento das características psicológicas humanas e culturalmente
organizadas.
Fundamentado
nesses pressupostos, Vygotsky enfatiza as relações entre desenvolvimento e
aprendizado, analisando esta questão sob dois enfoques: um que diz respeito à compreensão
da relação geral entre o aprendizado e o desenvolvimento; o outro se refere às
particularidades desta relação no processo escolar.
Em
seus trabalhos Vygotsky distingue dois níveis de desenvolvimento do indivíduo: o nível de desenvolvimento real ou efetivo e
o nível de desenvolvimento potencial. O
primeiro se refere às conquistas concretizadas pelo sujeito, ou seja, às funções
ou capacidades que ele já adquiriu e domina. Nas escolas, no cotidiano e nos
estudos sobre o desenvolvimento do aluno, é comum avaliar o aluno apenas neste nível.
O nível
de desenvolvimento potencial diz respeito às atividades que o aluno não consegue
realizar sem o auxilio de alguém. Vygotsky considera este nível muito mais
significativo para verificação do desenvolvimento mental do aluno.
O teórico
chama o intervalo entre o nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial de “Zona de desenvolvimento potencial ou proximal”, a
qual serve para indicar as funções que estão em fase de maturação no educando. Assim,
o ensino mais adequado ao desenvolvimento implica na consideração desses dois níveis
de aprendizagem.
O
aprendizado gera a zona de desenvolvimento proximal na medida em que, ao se
relacionar com outras pessoas, o sujeito desencadeia vários processos de
desenvolvimento. Esses processos são internalizados e passa a integrar as aquisições
do seu desenvolvimento individual. Baseando-se nesse fato, Vygotsky faz a
seguinte afirmação: “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível
de desenvolvimento real amanhã”.
O
conceito de zona de desenvolvimento proximal é importante no âmbito educacional
porque possibilita a compreensão da dinâmica interna do desenvolvimento humano.
Considerando esse conceito, o educador pode criar estratégias que auxiliem o
processo de aprendizagem do educando. Além disso, a zona de desenvolvimento
proximal permite a constatação do que não faz parte do conhecimento do sujeito.
Nessa
perspectiva, cada matéria escolar é essencial para o desenvolvimento do aluno e
mantém com este uma relação que varia com a passagem do aluno de um estágio de desenvolvimento
para outro.
A relação
entre pensamento e linguagem, o papel mediador da cultura na formação da base psicológica
do individuo e o processo de aprendizagem elaborado socialmente constituem as
teorias vygotskyanas e são determinadas pelo processo de formação de conceitos
e pela função desempenhada pela escola.
Para
Vygotsky, os conceitos representam um sistema de relação e generalização inserido
nas palavras e definido por um processo histórico-cultural, os pré-requisitos necessários
à definição de um conceito são estabelecidos por aspectos dos elementos do
mundo real, concebidos como importantes pelos diversos grupos sociais.
Para
esse teórico, o desenvolvimento e a aprendizagem do individuo estão inter-relacionados
desde o seu nascimento. Assim desde cedo, através de vivências e ações sobre o
material cultural (conceitos, ideias, objetos concretos etc), os indivíduos realizam
uma diversidade de atividades. Consequentemente, ao ingressar na escola, já
possuem alguns conhecimentos do mundo que os cercam. Contudo, na escola um
outro tipo de conhecimento será construído.
Buscando
explicar o papel da escola no processo de desenvolvimento do individuo, o teórico
relaciona dois tipos de conhecimentos: os conceitos cotidianos ou espontâneos e
os conceitos científicos. Os cotidianos se referem aos conhecimentos construídos
na experiência pessoal, concreta e cotidiana, ou seja, noções geradas a partir
da observação, manipulação e vivência direta do sujeito. Os científicos correspondem
aos conhecimentos elaborados na sala de aula, adquiridos através do ensino sistemático,
isto é, aqueles eventos não diretamente disponíveis à observação ou ação imediata
do sujeito.
Os
dois tipos de conhecimento estão inseridos no processo de construção de
conceitos, portanto, possuem uma relação estreita e um pode influenciar o outro,
pois possuem uma relação de reciprocidade.
O
processo de formação de conceitos é imprescindível para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores. Representa uma construção longa e completa porque
inclui operações intelectuais orientadas pelo uso das palavras (atenção deliberada,
abstração, memória lógica etc). A aprendizagem conceitual exige, além das informações
exteriores, uma intensa atividade mental por parte do sujeito. Sendo assim, um
conceito não pode ser aprendido mecanicamente, nem pode ser transmitido ao
aluno.
As funções
intelectuais constituem a base psicológica para a formação dos conceitos e são configuradas
e desenvolvidas durante a puberdade, através de desafios, exigências e estímulos
ao intelecto do adolescente.
Nessa
perspectiva, o ensino escolar é importante para a formação geral e científica
do aluno porque oferece um conhecimento sistemático sobre aspectos que ultrapassam
a sua percepção natural, possibilitando o seu contato com o conhecimento
cientifico construído historicamente; além de conscientizá-lo de seus próprios processos
mentais (metacognição).
Durante
o processo de ensino-aprendizagem, o aluno apresenta conhecimentos prévios que são,
na verdade, os conhecimentos espontâneos ou conhecimento do senso comum. Para
contextualizar a aprendizagem e facilitar a assimilação dos conhecimentos científicos
ou sistematizados, o professor deve valorizar o conhecimento prévio de seus
alunos relacionando ao conteúdo abordado durante as aulas.