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sexta-feira, 12 de julho de 2013

DAR OU NÃO UM CELULAR PARA CONTROLAR O FILHO?



ROSELY SAYÃO

O telefone celular pode ser uma facilidade na comunicação dos pais com seus filhos? É bom pensar melhor nesse assunto já que não são mais apenas os filhos adolescentes que pedem e/ou ganham um celular: crianças cada vez menores já vão para a escola ou para os passeios com a turma levando seu celular. Como toda e qualquer atitude que os pais tomam com relação aos filhos,
 oferecer um celular também terá consequências educativas, por isso é preciso avaliar primeiramente esse ponto de vista -o mais importante- e só depois o lado prático e objetivo da situação.
Muitos adolescentes acham o máximo ter seu próprio celular. E os pais, auxiliados por essa fraqueza consumista dos filhos, tratam de tirar proveito dela e não perdem tempo: compram logo um telefone móvel para o filho. As intenções dos pais nem sempre são claras, mas, sem dúvida, esse recurso oferece a possibilidade de uma maior vigilância e controle dos passos dados pelos filhos. Doce ilusão!
A prática tem mostrado que os adolescentes usam o celular apenas na busca da própria comodidade, como na hora de chamar os pais para buscá-lo na festa ou quando termina o show. Mas, se por acaso ele diz que vai a algum lugar e depois vai a outro ou se resolve esticar o programa sem autorização, o celular é desligado, fica tocando em vão ou, providencialmente, fica sem bateria. Simples, não?
Agora, sem dúvida alguma, eles sempre têm o que falar e com quem falar horas e contas a fio -e quase sempre sem limite algum, a não ser o próprio. Isso significa discussões quando chega a conta, suspensão de uso etc. e tal. Até que chega um dia em que o filho, se for esperto, abdica do celular dado pelos pais e só vai voltar a usar um quando puder ter autonomia para decidir quando e como usar. Ponto para o adolescente que chega a essa conclusão!
Isso significa que os adolescentes não devem ter celular? Não. Isso significa que, até o momento, a maioria dos pais e também dos filhos ainda não aprendeu a usar esse recurso que a tecnologia moderna oferece de modo a tirar vantagens dele. Deve ter não apenas um, mas vários modos de usar o celular em benefício de ambos os lados, mas é preciso inventá-los ainda. Fica o desafio, principalmente aos jovens leitores desta coluna.
E quanto aos pais de crianças entre nove e 12 anos que acreditam ajudar a proteger o filho dando um celular a ele? Um bom exemplo é ver grupos de crianças dessa idade passeando no sábado à tarde nos shoppings
 devidamente armados com seus celulares. Tive a chance de ouvir uma breve conversa ao celular de uma garota de 11 anos, mais ou menos, com sua mãe. Ela ligou para perguntar a opinião da mãe sobre o lanche que pediria na lanchonete!
O celular não substitui a presença de um dos pais ou do adulto responsável pela criança em determinadas atividades que ela faz. O maior risco é os pais acreditarem nessa possibilidade, pois isso os leva a crer que podem
 permitir que os filhos façam coisas que, sem o celular, não permitiriam. Pois, mesmo com o telefone, não devem permitir. E, se há alguma atividade que ela pode fazer sozinha, o celular só pode atrapalhar. Ou alguém conhece criança com maturidade para administrar uma conversa ao celular e pegar o ônibus, por exemplo, ou atravessar uma avenida ao mesmo tempo?
Muitos pais dão o celular ao filho com menos de 12, 13 anos, porque assim ficam mais aliviados: podem ter acesso ao filho a qualquer momento e local. Isso significa que são os pais que precisam do celular, e não o filho. E, dessa forma, certamente o resultado não será benéfico na educação para a autonomia.
Quer dizer que uma criança não pode ser beneficiada com uso do celular? Dificilmente, pois é recurso da vida adulta. Isso significa que ela não deve ter um, mas não quer dizer que não possa usar um, de vez em quando, quando a família achar conveniente e necessário. Mas vale lembrar que isso é exceção, e não regra nas situações que ela vivencia.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br

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