Segundo
Piaget, a criatividade é algo que se desenvolve ao longo da vida, desde que o
sujeito seja motivado e intermediado para isto. Nesse processo, a ludicidade é
fundamental na medida em que proporciona a mobilização da criatividade e,
consequentemente, o desenvolvimento do indivíduo. Isso porque o processo
criativo mobiliza o desenvolvimento da inteligência, uma vez que cada estágio
do desenvolvimento humano produz algo radicalmente novo.
Ao se
considerar que a criatividade se desenvolve a partir das inúmeras interações
que o indivíduo realiza, percebe-se que neste contexto três sistemas básicos
exercem grande influência na viabilização desse processo: a família, a escola e
a sociedade.
Durante a
convivência familiar, sendo esta pautada no equilíbrio emocional e na
flexibilidade adequada das regras, a criança tem liberdade para iniciar o
desenvolvimento de sua criatividade como um processo personológico. Uma criança
oriunda de uma família muito tradicional, por exemplo, em que prevalece uma
rigidez de regras, dificilmente desenvolverá sua criatividade e a capacidade de
questionamento.
Por outro
lado, um ambiente familiar em que predomina o diálogo e a interação, onde o
sujeito possa se expressar, expondo com espontaneidade suas idéias e
sentimentos, longe de preconceitos, representa um espaço aberto ao novo e a
muitas possibilidades. Um espaço que viabiliza, segundo Luckesi, a “plenitude da experiência”, que nada mais
é do que a própria ludicidade.
Quanto aos
sistemas educativos, sabe-se que, com raras exceções, são esboçados como um
local em que o sujeito desenvolverá conhecimentos, habilidades, valores e
comportamentos, em detrimento do desenvolvimento da personalidade e da
criatividade.
Visto por
outro ângulo, existe a possibilidade da escola tornar-se uma organização de
qualidade, contribuindo para o desenvolvimento humano no aspecto da
personalidade e da criatividade. Para tal, é necessário que haja o
comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo: docentes, alunos,
administradores, dentre outros. Todos esses segmentos devem estar conscientes e
dispostos a construir uma nova identidade para a educação.
A
escola em si contempla o instrumental necessário à viabilização desse objetivo:
os jogos, as brincadeiras e a ludicidade propriamente dita. Esses representam
recursos didáticos de grande aplicação e valor no processo de ensino
aprendizagem, tendo em vista que favorecem o desenvolvimento integral do
educando. Conforme Piaget, a criança precisa brincar para crescer, precisa do
jogo como forma de equilibração com o mundo. Isso porque, a medida que se
desenvolve a partir da manipulação e
interação com materiais diversificados, a criança passa a reconstruir objetos,
a reinventar coisas.
A
sociedade, por sua vez, representa um macro-sistema que influencia, de acordo
com a cultura, no desenvolvimento da criatividade dos indivíduos, por meio da
família, da escola e demais contextos sociais.
Em síntese, o avanço científico e
tecnológico na sociedade moderna exige dos indivíduos um nível cada vez maior
de criatividade, atribuindo à família e, sobretudo, à escola a missão de
desenvolver naqueles a capacidade criativa, propiciando uma formação mais
completa da personalidade humana, tanto no aspecto social como pessoal.
Dessa forma,
faz-se necessária uma mudança no ensino como um todo, abrangendo o currículo,
as metodologias e, principalmente, as posturas dos segmentos envolvidos neste
processo. Certamente essa mudança conscientizará a família, a escola e,
consequentemente, a sociedade sobre a importância de se formar cidadãos
críticos e preparados para viver situações novas e inesperadas.
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