Incrível
como o analfabetismo é um assunto que nunca se esgota nas mídias
brasileiras. Mais interessante ainda são as teorias empregadas para
justificar a existência desse câncer social: má alimentação,
pobreza, dificuldades de aprendizagem e muitas outras causas em que
o foco é sempre o aluno. Entretanto, não há interesse algum, por
parte de quem está no poder, em encontrar as verdadeiras causas para
essa patologia social.
Há
mais de 25 anos na área educacional, me pego inúmeras vezes
pensando no sofrimento ao qual os alunos são submetidos.
Descompromisso pedagógico, desrespeito ao tempo pedagógico, greves
constantes, falta de livros e recursos didático-pedagógicos, ensino
desqualificado e muito aquém do que é ministrado pelas escolas
particulares. Digo isso considerando apenas àquelas escolas que,
mesmo sendo particulares, apresentam um ensino muito fraco, abaixo do
recomendável.
No
cotidiano das escolas, da rede pública ou particular, o que se pode
presenciar é a falta constante de professores, desmotivação dos
alunos, carência de professores para lecionar – mesmo tendo sido
feito vários concursos para atender a demanda. Alunos que não podem
“dar um pio” na aula porque são colocados para fora da sala.
Coloca-se para fora do ambiente de aprendizagem, pelo que vejo
enquanto profissional da área, por motivos banais, infundados. Que
lição há nessa atitude do educador? Penso que é isso que os
alunos querem, sair desse ambente que lhe é hostil. De um ambiente
em que seu tutor fala uma linguagem diferente e distante da sua. Que
emprega metodologias ultrapassadas e que não motivam em nada a
participação discente. Profissionais desqualificados, mal
remunerados e que fazem apenas o mínimo do mínimo do que deveria
ser a sua competência profissional. Os conteúdos, que tristeza,
tenho até medo de mencionar. Adiantados para a série e idade
escolar nas escolas particulares e o oposto sendo aplicado nas
escolas públicas. Quer ver um exemplo? Um aluno da escola pública
que acompanhei recentemente ia fazer uma avaliação de matemática
referente ao 8º ano e a revisão da prova contemplava exercícios de
equação do primeiro grau, potenciação, inequação do 1º grau,
os quais fazem parte do 6º ano do fundamental lI. Onde ficaram os
produtos notáveis, as equações literais e algébricas, os
polinômios e demais assuntos do 8º ano? Que preparo esse aluno terá
para no futuro ingressar em uma faculdade?
Nas
aulas de língua portuguesa, onde fica a literatura, o ato de ler por
prazer? A literatura é utilizada como pretexto para ensinar
gramática, para mostrar o que é substantivo, artigo, conjunção e
demais classes gramaticais. Que prazer os alunos vão ter em ler um
poema, um conto, um soneto, uma história, um romance e muitos outros
textos literários, se a própria literatura é subutilizada pelos
professores? Como os alunos podem aprender e se desenvolver sem ter
um hábito de leitura? Para aprender a ler é preciso ler e para
redigir é preciso exercitar a escrita, e estas atividades pouco são
priorizadas nas escolas. Os alunos muito mal fazem exercícios de
casa. Os trabalhos são copiados e colados da internet, pois os
alunos não sabem ler e resumir, são programados apenas para serem
copistas. Não quero aqui me deter em outros detalhes, no intuito de não cansar o leitor. Apenas faço o meu desabafo, em prol dos meus alunos
e de muitos outros alunos que são alienados do seu direito de ser um
aprendiz, de ter uma educação de qualidade, de se desenvolver enquanto pessoa e no futuro galgar uma
oportunidade para ser um bom profissional.
Autor: Professora Martha
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